
Moatize, Tete — No coração do distrito de Moatize, em Tete, onde se encontram algumas das maiores reservas de carvão mineral de Moçambique, a população já não respira alívio nem progresso: respira poeira. Literalmente.
Todos os dias, uma nuvem espessa de poeira de carvão cobre casas, ruas e corpos, deixando um rasto visível de um recurso que, em vez de trazer desenvolvimento, tornou-se símbolo de abandono. “Só vemos a poeira dos nossos recursos”, lamenta Pedro Mabunda, morador do bairro Nhachere. “O carvão sai daqui, mas o que fica é a doença, a sujeira e o silêncio das autoridades.”
As operações de exploração e transporte de carvão pelas empresas mineiras, em grande parte multinacionais, têm gerado impactos ambientais e de saúde pública há mais de uma década. A poeira gerada pelas minas a céu aberto e pelos camiões de transporte atravessa os bairros residenciais, infiltrando-se nas casas, contaminando a água e agravando doenças respiratórias, sobretudo entre crianças e idosos.
Apesar dos constantes apelos da população local, as autoridades governamentais e ambientais continuam em silêncio. “Fizemos abaixo-assinados, manifestámos nas comunidades, falámos com os representantes distritais… mas nada muda”, conta Maria Feliciano, mãe de três filhos que sofrem de problemas respiratórios.
Estudos feitos por organizações da sociedade civil alertam para o aumento de casos de bronquite crónica e outras doenças ligadas à exposição prolongada à poeira de carvão. Ainda assim, as medidas de mitigação ambiental prometidas pelas empresas mineiras raramente se cumprem e a fiscalização governamental é praticamente inexistente.
Enquanto isso, o carvão continua a sair de Moatize — toneladas por dia — em comboios que seguem para os portos de exportação. O lucro vai para fora; a poeira fica. Para muitos moradores, o verdadeiro peso do carvão não está nas minas, mas nos pulmões de quem aqui vive.
Sem respostas das autoridades e sem alternativas, a população de Moatize continua a resistir — coberta de pó, mas firme na esperança de um futuro onde os recursos tragam vida, e não doença.