
Em 2022, durante o mandato do Presidente Filipe Nyusi, a Polícia da República de Moçambique (PRM) recebeu com pompa e circunstância uma nova frota de viaturas — popularmente apelidadas de “carrinhos” — destinadas a reforçar a capacidade de patrulha das forças de segurança em todo o país. A promessa era clara: mais mobilidade, maior eficácia no combate ao crime e presença reforçada da polícia nas comunidades.
No entanto, menos de um ano depois da sua aquisição, o cenário transformou-se num retrato preocupante de má gestão, negligência e possível corrupção. Grande parte desses meios de transporte desapareceram misteriosamente. Outros, em vez de circularem pelas ruas a garantir a segurança dos cidadãos, jazem agora estacionados nas unidades policiais, convertidos em salas improvisadas de descanso para os “chefes”.
Fontes internas relatam que muitas destas viaturas nunca chegaram a ser usadas de forma operacional. Em algumas esquadras, veículos permanecem parados há meses por “avarias técnicas”, apesar de serem praticamente novos. Em outros casos, os carrinhos teriam sido desviados para uso pessoal por oficiais superiores ou simplesmente sumiram sem deixar rasto — numa nuvem de silêncio institucional.
A falta de responsabilização levanta sérias questões sobre a transparência e a eficiência do uso dos recursos públicos no seio da PRM. Como é possível que bens adquiridos com fundos do Estado, e com objectivos tão claros, se tornem invisíveis sem que ninguém seja chamado a prestar contas?
Num país onde a criminalidade continua a desafiar a segurança dos cidadãos e onde muitas zonas continuam sem presença policial visível, o desaparecimento dos “carrinhos” representa mais do que um escândalo logístico — é um reflexo gritante da falência dos mecanismos de controlo e fiscalização dentro das instituições públicas.
Enquanto os “chefes” repousam confortavelmente nos carros do povo, este continua vulnerável e sem protecção nas ruas. E a pergunta fica: quem vai patrulhar a polícia?