
Enquanto o ex-presidente norte-americano Donald Trump volta a protagonizar a cena internacional com uma ameaça militar ao Burkina Faso, um inquietante silêncio paira sobre o continente africano. Nenhuma declaração oficial de peso. Nenhum gesto coletivo de solidariedade. Nenhuma resposta à altura da gravidade da situação.
O contraste com a reação ocidental à crise na Ucrânia, em 2022, é gritante. Quando Trump se mostrou hostil ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, os dirigentes europeus correram em apoio a Kiev. Sanções foram impostas à Rússia, ajuda militar foi enviada e o discurso da defesa da soberania nacional foi amplamente adotado.
No entanto, diante de uma ameaça contra um Estado africano, o continente parece mergulhado em apatia institucional.
Por que esse silêncio?
A resposta não é simples, mas envolve elementos estruturais profundos. Primeiro, há a falta de uma diplomacia africana unificada. A União Africana, embora seja um organismo importante, ainda carece de autonomia política e força estratégica para reagir de forma coesa a crises como esta.
Além disso, muitos governos africanos mantêm relações ambíguas com os Estados Unidos, marcadas pela dependência econômica e militar. Falar contra Washington – especialmente quando liderado por uma figura imprevisível como Trump – pode significar retaliações diplomáticas ou cortes em acordos bilaterais sensíveis.
Há também um fator histórico. O continente africano foi, por décadas, palco de ingerências externas – militares, políticas e econômicas – normalizadas pela comunidade internacional. Essa “normalização” contribui para uma perigosa insensibilidade coletiva. A soberania africana, para muitos fora (e dentro) do continente, ainda parece valer menos do que a soberania europeia.
O preço do silêncio
O mutismo dos dirigentes africanos diante da ameaça a Burkina Faso não é apenas uma questão de covardia diplomática. É um sinal de enfraquecimento da solidariedade continental. É a ausência de um projeto político que defenda a África como espaço legítimo de dignidade, autonomia e respeito.
Se o continente africano quiser se afirmar no cenário internacional, não pode continuar aceitando calado cada vez que uma potência estrangeira ameaça um dos seus. O silêncio de hoje pode ser o precedente perigoso para as violações de amanhã.
A pergunta que fica é direta: onde estão os nossos dirigentes quando mais precisamos deles?