Qui. Abr 24th, 2025


O que Chapo ganharia com instabilidade e provável ingovernabilidade em Moçambique?

Ao fim da tarde do dia 13 de Abril, um domingo, o alarme de mais um iminente recolher da instabilidade em Moçambique voltou a soar, desta vez por via de mais um acto cobarde e a todos os títulos condenável: o atentado à vida do músico e mobilizador político Joel Amaru, mais conhecido por “Trufafá”, na cidade de Quelimane, a “zona libertada” sob a égide da oposição há mais de 10 anos.

“Trufafá”, que é também DJ, é uma figura que dispensa apresentações no espaço público moçambicano desde a segunda metade de 2023, quando, logo a seguir às conturbadas eleições municipais daquele ano, “inundou” as ruas de cidades como Quelimane e Maputo com o seu “Mas Quem Ganhou?!”, com Manuel de Araújo, edil de Quelimane, a partilhar vídeos ao seu lado num apelo à recondução na Assembleia da República do cabeça-de-lista da Renamo por Zambézia, José Manteigas.

O crime de 13 de Abril, de que Trufá-fá escapou com vida por circunstâncias ainda não totalmente apuradas, ocorre apenas 15 dias depois de o mesmo ter subido a um dos palcos do festival “Azgo” na capital do país, e numa altura em que, em diversos círculos, incluindo alguns editores de jornais cujas cores políticas são de formas materialmente expressas, o discurso em que se estava a enveredar era de “um acto perpetrado pelo Governo de Daniel Chapo”.

Vale (i) notar que o grave atentado a Joel Amaru aconteceu depois do encontro entre o Presidente da República e Daniel Chapo, o antigo secretário provincial em Inhambane, quando o país encontrava-se mergulhado nas intensas discussões do mês entre os dois turnos das eleições internas do partido Frelimo, cujos longos meses anteriores já eram marcados por vários atropelos e denúncias públicas de intimidação, sequestros, ameaças de morte e outras formas de coação política e perseguição contra figuras da oposição. E tudo em meio a um processo eleitoral para o Congresso de Outubro, cujos contornos e sinais de desequilíbrio, inclusive entre “camaradas”, puseram em causa o sentimento e sabor da governabilidade, apesar de toda a situação conjuntural.

Pois, onde o maior benefício dum certa situação surge é para quem promove ou consinta a prevalência dessa situação?

Certamente que não!

Dos romances e dos filmes policiais, muitos românticos inclusive, sabe-se que uma das questões a se investigar é sempre “quem lucra mais com o crime?”, que neste caso poderá ser uma questão objectiva a ser colocada à luz do “Tufafá” e do regresso do Secretariado Nacional da Frelimo com a entronização e reintegração de Daniel Chapo-Venâncio na associação política de topo, apesar de toda jogada tornada pública.

Sim, estão empenhados em convencer os moçambicanos de que se trata apenas de uma “coincidência”, mas os factos e a cronologia dos eventos indicam que a sucessão não foi “normal”.

Dos nomes dos diversos deputados cujos nomes constam nas listas para as eleições de 9 de Outubro, aos tiros de 13 de Abril, muito se pode discutir, incluindo a capacidade dos próprios órgãos de segurança e investigação criminal de prevenir ou no mínimo avisar os tiros cujos.

Com a sua comissão, se pelo menos em termos discursivos, em acabar com a corrupção e promover a transparência, o Presidente da República deve estar disponível para escutar as indicações e pistas sobre as acções subversivas de grupos armados e suas linhas de financiamento, logística, coordenação e outros. E nesta missão, frise-se, um governo não deve excluir a sociedade, mas antes priorizá-la, incluindo os adversários políticos.

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