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Seg. Jun 9th, 2025

Celular contrabandeado da Coreia do Norte revela nível extremo de censura e vigilância estatal

Um telemóvel contrabandeado clandestinamente da Coreia do Norte para fora do país trouxe à luz detalhes alarmantes sobre o controlo tecnológico exercido pelo regime de Kim Jong-un. O dispositivo, um modelo localmente produzido e destinado exclusivamente ao mercado interno norte-coreano, revela um ecossistema digital construído não para facilitar a comunicação, mas para monitorizar e restringir cada movimento dos utilizadores.

O aparelho foi obtido por meios não divulgados, por razões de segurança, e analisado por especialistas em cibersegurança e direitos humanos fora do país. As conclusões são claras: trata-se de um dispositivo concebido para a vigilância total, onde até a mais simples funcionalidade está subordinada à máquina repressiva do Estado.

Sistema fechado e manipulado

Ao contrário dos smartphones convencionais, este telemóvel opera com uma versão modificada do Android, sem acesso à internet global. Em vez disso, está ligado a uma intranet nacional chamada Kwangmyong, um sistema fechado com websites aprovados e supervisionados pelas autoridades.

As aplicações disponíveis são limitadas, e qualquer tentativa de instalar programas não autorizados é imediatamente bloqueada. O sistema inclui uma funcionalidade de verificação automática de ficheiros, que apaga qualquer conteúdo que não contenha uma “assinatura digital” reconhecida pelo regime. Isso significa que músicas, filmes ou textos trazidos do exterior são rapidamente detectados e eliminados.

Vigilância invisível

Um dos aspetos mais preocupantes identificados na análise é a existência de um sistema interno de captura de ecrã automática. A cada poucos segundos, o telefone tira uma imagem do que está a ser visualizado, criando um registo oculto das atividades do utilizador. Estas capturas são armazenadas de forma encriptada e podem ser extraídas pelas autoridades em caso de inspecção.

Além disso, fotos tiradas com o dispositivo recebem uma marca digital única — uma espécie de impressão digital — que permite rastrear quem as captou, quando e onde. Especialistas acreditam que este mecanismo é utilizado para identificar e punir quem partilha imagens consideradas “sensíveis”, como fotografias de pobreza, repressão ou violência policial.

Comunicações controladas

As chamadas e mensagens de texto são restritas ao território nacional. Chamadas internacionais são tecnicamente impossíveis para a população comum. Até os contactos entre cidadãos são monitorizados. Cada número de telefone está registado com identificação biométrica, e as autoridades têm acesso em tempo real às ligações feitas e recebidas.

“É uma prisão digital”, afirma um analista de cibersegurança sul-coreano que participou na análise do dispositivo. “Cada função do aparelho é desenhada para garantir que o utilizador permaneça sob vigilância e dentro das fronteiras ideológicas do regime.”

Um reflexo do Estado

O telemóvel é apenas uma peça de um sistema de controlo muito mais vasto. No entanto, é simbólico: representa a tentativa do regime de dominar até o espaço mais pessoal da vida dos seus cidadãos. Num mundo onde o smartphone é frequentemente uma ferramenta de liberdade e expressão, na Coreia do Norte ele é um instrumento de medo e silêncio.

Este contrabando raro — e perigoso — permite à comunidade internacional vislumbrar, de forma concreta, o grau de sofisticação com que a repressão tecnológica é conduzida em Pyongyang.

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