
Em mais um episódio alarmante de vulnerabilidade no sistema de pagamentos móveis em Moçambique, um cidadão identificado como Cleyton denuncia o desaparecimento de 400 mil meticais da sua conta M-Pesa, sem qualquer autorização ou conhecimento da sua parte. O extracto fornecido pelo próprio serviço mostra que o valor foi fragmentado e distribuído por várias contas M-Pesa, levantado de forma coordenada — indício claro de um esquema fraudulento.
A operadora Vodacom Moçambique, responsável pela gestão do M-Pesa, permanece em silêncio ensurdecedor, sem apresentar explicações públicas nem sinais visíveis de investigação ou responsabilização. Este caso não é isolado: queixas semelhantes têm vindo a multiplicar-se nas redes sociais e fóruns públicos, todas com o mesmo padrão — acesso indevido, transacções não autorizadas e um atendimento ao cliente burocrático, demorado e ineficaz.
Falta de transparência e responsabilidade
A Vodacom continua a vangloriar-se da “segurança” e “confiabilidade” da plataforma M-Pesa, mas a realidade mostra outra face: clientes vulneráveis, respostas automáticas e uma falta gritante de transparência. Onde estão os mecanismos de auditoria? Onde está o rastreamento das contas receptoras? Como é possível que valores tão elevados possam circular por diversas contas sem levantar alertas internos?
É legítimo questionar: o sistema de M-Pesa está mesmo protegido contra esquemas fraudulentos, ou a empresa simplesmente lava as mãos quando surgem casos como este?
Operadora desresponsabiliza-se: “O dinheiro já foi levantado”
A resposta da Vodacom ao caso de Cleyton foi tão alarmante quanto o desaparecimento do dinheiro em si: a empresa afirma que não pode recuperar os 400 mil meticais porque o valor “já foi levantado”. Esta posição levanta questões sérias: se um sistema de pagamento permite que terceiros movimentem e retirem quantias avultadas sem qualquer verificação de legitimidade, onde está a segurança? Onde está a responsabilidade?
Mais grave ainda é o precedente perigoso que se estabelece: se o dinheiro for levantado por criminosos antes da vítima conseguir reagir, a Vodacom simplesmente desiste do caso. Esta atitude equivale a dizer que, uma vez que o crime foi consumado, já não vale a pena investigar ou reparar os danos. Isto não só desprotege o consumidor, como também incentiva a impunidade.
Regulador ausente, operadora impune
A Autoridade Reguladora das Comunicações e o Banco de Moçambique — ambos com responsabilidade directa sobre as transacções móveis — também permanecem calados. Não se conhece qualquer acção concreta para investigar ou exigir melhorias de segurança por parte da Vodacom.
Esta ausência de regulação activa abre espaço para uma perigosa normalização do roubo digital, onde os clientes não só perdem dinheiro, mas também a confiança num sistema que deveria protegê-los.
Apelo à acção e à justiça
Cleyton, como muitos outros, não exige milagres: apenas justiça, responsabilidade e transparência. Quer saber como o dinheiro desapareceu, quem o recebeu e por que razão a sua conta foi alvo. Quer também garantias de que o mesmo não acontecerá com outros utilizadores.
Num país onde o pagamento digital é cada vez mais central para a economia informal e para a vida diária, permitir que plataformas como o M-Pesa operem com falhas de segurança e sem responsabilização é um atentado à confiança pública e aos direitos do consumidor.
Conclusão: A confiança é difícil de conquistar — e fácil de perder
A Vodacom tem a obrigação moral e legal de proteger os dados e o dinheiro dos seus clientes. Ignorar casos como este não é apenas um erro estratégico — é uma traição à confiança de milhões de moçambicanos.