
Maputo, 8 de Outubro de 2025 — Duas décadas e quatro anos depois de ter sido condenado pelo assassinato do jornalista Carlos Cardoso, o cidadão moçambicano Aníbal dos Santos Júnior, conhecido em todo o país como “Anibalzinho”, voltou a ser notícia. O homem que protagonizou fugas cinematográficas, julgamentos mediáticos e um dos processos criminais mais marcantes da história recente de Moçambique, foi libertado esta terça-feira, segundo confirmaram fontes ligadas ao sistema prisional.
O caso que chocou o país
Em 22 de novembro de 2000, o jornalista e diretor do jornal Metical, Carlos Cardoso, foi morto a tiro em Maputo. Cardoso investigava o escândalo financeiro do então Banco Comercial de Moçambique (BCM), onde foram desviados milhões de dólares durante o processo de privatização. O crime causou comoção nacional e expôs as ligações perigosas entre negócios, crime e poder.
O julgamento e a condenação
Em 2003, o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo condenou seis homens pelo homicídio. À cabeça estava Aníbal dos Santos Júnior, acusado de chefiar o grupo executante. Por se encontrar foragido na altura, foi julgado à revelia e condenado a 28 anos e meio de prisão.
Após a sua recaptura no Canadá, em 2005, Aníbalzinho foi submetido a um novo julgamento em 2006, onde o juiz Dimas Marrôa manteve a condenação e aumentou a pena para 30 anos de prisão, a pena máxima permitida pela legislação moçambicana.
Entre os co-arguidos estavam Momade Assif Abdul Satar (“Nini Satar”), Vicente Narotam Ramaya, Ayob Abdul Satar, Manuel dos Anjos Fernandes (“Escurinho”) e Carlitos Rachide (“Calú”), todos condenados a penas entre 23 e 24 anos de prisão.
Fugas espetaculares e recapturas
A história de Anibalzinho ganhou contornos de filme. Em 2002, fugiu da Cadeia Central de Maputo; em 2004, voltou a escapar, sendo capturado no Aeroporto Internacional de Toronto (Canadá) e extraditado para Moçambique em 2005.
Mesmo depois de condenado novamente, em 2008, protagonizou uma terceira fuga, sendo recapturado na Tanzânia. A cada recaptura, o seu nome regressava às manchetes e reacendia o debate sobre fragilidades do sistema prisional moçambicano.
Os co-arguidos: destinos diferentes
Mais de duas décadas depois, o destino dos condenados é diverso:
• Nini Satar, acusado de ser um dos mandantes, morreu em março de 2025 numa cela da prisão de máxima segurança da Machava.
• Vicente Ramaya foi assassinado em 2014, em Maputo, após ter sido libertado condicionalmente.
• Ayob Satar, Escurinho e Carlitos Rachide foram libertados por bom comportamento, entre 2013 e 2014, segundo o Serviço Nacional Penitenciário.
A libertação de Anibalzinho
De acordo com informações confirmadas pelo portal MzNews e pelo jornal Evidências, Aníbalzinho foi libertado após cumprir 24 anos de prisão, e não os 30 anos originalmente fixados. As autoridades ainda não divulgaram se se tratou de libertação condicional, remissão de pena ou indulto presidencial.
A sua saída da prisão está a gerar forte debate público, com alguns a defenderem o direito ao recomeço após mais de duas décadas de encarceramento, e outros a considerarem que a libertação representa um insulto à memória de Carlos Cardoso, símbolo da luta pela liberdade de imprensa em Moçambique.
Um nome que não se apaga
Aníbalzinho deixa a prisão como uma das figuras mais controversas do país. Entre o estigma do crime e o mistério sobre os verdadeiros mandantes do assassinato, o seu nome continua associado a um dos episódios mais sombrios da história moçambicana contemporânea.
Carlos Cardoso foi morto por investigar corrupção. Duas décadas depois, o país continua à procura de justiça plena e respostas definitivas.
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