
Em 2019, o indiano Raphael Samuel, natural de Mumbai, chamou a atenção internacional ao anunciar que pretendia processar os próprios pais por o terem feito nascer sem o seu consentimento.
Com então 27 anos, Samuel identificava-se com o movimento antinatalista, uma corrente filosófica que questiona a moralidade de gerar filhos num mundo onde o sofrimento é inevitável. O jovem argumentava que ninguém devia ser obrigado a existir sem ter escolhido e que os pais não têm o direito de criar uma nova vida apenas “por prazer ou tradição”.
“Os meus pais tiveram-me para a sua alegria e prazer. Não devo nada a eles por me terem dado a vida”, declarou Samuel em entrevista a meios de comunicação locais.
A intenção de levar os pais a tribunal não passou despercebida. Raphael Samuel tornou-se rapidamente uma figura polémica e viral, sendo citado por grandes órgãos de comunicação internacionais como BBC, ABC News e The Independent.
Os próprios pais, ambos advogados, reagiram com humor e tranquilidade. A mãe, em declarações à imprensa, afirmou:
“Se Raphael conseguir dar uma explicação racional de como poderíamos ter pedido o seu consentimento antes de nascer, aceitarei a minha culpa.”
Apesar da ampla repercussão, nenhum processo judicial foi realmente aberto. Samuel admitiu que dificilmente encontraria um advogado disposto a representar o caso e reconheceu que a sua acção era, sobretudo, simbólica e provocadora — uma forma de chamar a atenção para o debate sobre o antinatalismo, filosofia que defende que não nascer é preferível a nascer, para evitar sofrimento humano e ambiental.
O episódio reacendeu discussões éticas e filosóficas na Índia, país com mais de 1,4 mil milhões de habitantes, onde temas como a superpopulação, o impacto ambiental e o sentido da existência ganham cada vez mais relevância.
Apesar das críticas, Raphael Samuel manteve a sua posição:
“Não é contra os meus pais pessoalmente. Amo-os. Mas quero que as pessoas percebam que ter filhos é uma escolha egoísta, e não um dever.”
O caso de Samuel permanece como um exemplo extremo de contestação à própria existência, e continua a ser recordado como um dos episódios mais curiosos do debate contemporâneo sobre ética, liberdade e natalidade. Continue lendo










