
Na última quinta-feira, o Presidente da República, Daniel Chapo, desembarcou em Blantyre, capital do Malawi, para uma visita oficial. No entanto, o que mais chamou a atenção não foi a agenda diplomática, mas o meio de transporte escolhido: um jacto executivo de luxo, modelo Bombardier Global Express, alugado à empresa suíça TAG Aviation Limited. O custo? Cerca de 11 mil dólares norte-americanos por hora — o equivalente a 700 mil meticais.
A revelação do valor provocou críticas generalizadas, sobretudo porque o país atravessa uma crise económica, com o Governo a exigir contenção de despesas a todos os sectores. “Como se justifica gastar este valor por hora, enquanto há escolas sem carteiras, hospitais sem medicamentos e famílias a viverem com menos de 100 meticais por dia?”, questionou um analista económico.
Segundo especialistas da aviação executiva, o valor anunciado refere-se à contagem por “block time” — ou seja, o tempo desde que a aeronave começa a movimentar-se no solo até parar completamente no destino. No entanto, este custo pode ser ainda mais elevado devido ao modelo de faturação comum nestes casos, especialmente em serviços de luxo para chefes de Estado.
Na prática, o tempo cobrado pode incluir:
• O voo do avião (por exemplo, de Joanesburgo até Maputo, para ir buscar o Presidente),
• O tempo de espera no aeroporto (standby),
• O voo até ao Malawi,
• O tempo em solo à espera da comitiva,
• E o voo de regresso da aeronave (com ou sem passageiros).
Isto significa que, mesmo que o voo directo entre Maputo e Blantyre dure pouco mais de uma hora, o aluguer pode facilmente acumular várias horas adicionais de operação — todas faturadas ao Estado moçambicano.
Além disso, podem ser aplicadas taxas de aterragem, combustível, alojamento da tripulação e serviços de handling, elevando ainda mais a factura final. A Presidência não revelou até agora o custo total da operação, nem os critérios que levaram à escolha desta opção altamente onerosa.
A contradição com os discursos oficiais torna-se evidente. Nas últimas semanas, membros do Governo voltaram a insistir na necessidade de “rigor fiscal” e “contenção de despesas”, apontando o despesismo como um entrave ao desenvolvimento. Mas, ao que tudo indica, tais restrições não se aplicam à própria Presidência da República.
Num país em que o salário mínimo ronda os 5 mil meticais, o custo de uma única hora neste jacto de luxo equivale a mais de 11 anos de trabalho de um cidadão comum. Esta disparidade lança uma vez mais uma sombra sobre o compromisso real da elite dirigente com a ética na gestão do erário público.
Se a governação pretende reconquistar a confiança dos moçambicanos, terá de começar por dar o exemplo — com transparência, responsabilidade e respeito pelo povo.