
Em 2023 e no início de 2024, um certo Homem foi duramente atacado por recorrer ao Judiciário como instrumento de luta política. Sua ousadia não foi bem-vinda nem mesmo entre os seus pares. Dentro da sua formação partidária, foi acusado de transpor os limites do aceitável. Lembro-me de ouvir colegas seus dizerem, com tom severo: “Ele estava indo muito bem, mas levar o nosso Presidente ao Tribunal foi demais. Coisas de dentro de casa resolvem-se em casa.”
Um conceituado advogado, antigo bastonário e amigo meu, cunhou na época uma frase que hoje parece falida: “A judicialização da política não dá bons frutos. Quem o faz, define-se como político incompetente, pois revela que não usa as armas, meramente, políticas para seus objetivos.”
Contudo, eis que acordo hoje e, para minha surpresa, vejo os mesmos críticos — políticos, advogados, académicos — rendendo elogios à bravura de Álvaro Massingue. Mas esquecem, de forma conveniente, que a sua vitória na presidência da CTA só foi possível porque o caminho legal e judicial foi, desta vez, o único recurso viável para restaurar a democracia interna. Um presidente anterior, que se julgava intocável, estava a “vumar” tudo e todos, subvertendo regras, impondo vontades e negando aos membros o direito de escolher livremente.
Foi graças à atuação firme de juízes e advogados, que impediram a “Elvinização” do processo eleitoral, que Massingue pôde chegar à liderança. A vitória foi da legalidade, do Estado de Direito — valores que, ironicamente, o tal certo Homem já havia defendido com coragem, quando muitos ainda se escondiam atrás do silêncio conveniente.
É preciso, portanto, reconhecer: há um legado deixado por esse Homem. Um legado de não se curvar à matilha, de não aceitar o anormal como norma. Alguém que se levantou contra a injustiça, mesmo quando era mais fácil calar.
Resta agora esperar que Álvaro Massingue não se transforme, com o tempo, em mais um líder que renega a sua própria história. Que não passe a hostilizar os futuros concorrentes, que não insulte os mesmos valores que hoje o colocam onde está. Pois nada é mais trágico do que esquecer as lições que nos conduziram à vitória.