
Relatório do SUSTENTA Contraria Realidade No Terreno

O relatório oficial do Programa SUSTENTA, assinado por Celso Ismael Correia enquanto Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, apresenta uma versão altamente positiva da evolução do sector agrário nos últimos cinco anos. No entanto, essa narrativa contrasta de forma gritante com a realidade vivida por milhares de trabalhadores do campo, dados de fiscalização independente e decisões recentes do próprio governo, que determinou a extinção do programa por má gestão.
Nas notas introdutórias do documento, Correia destaca “progressos significativos” na agricultura moçambicana, apesar de adversidades como a pandemia da COVID-19, terrorismo e desastres naturais. O ex-ministro elogia ainda a “resiliência notável” do sector e fala em “aumento da produtividade”, “expansão da área cultivada” e “adoção de tecnologias inovadoras”.
Contudo, os relatos vindos do terreno desenham um retrato bem diferente. Extensionistas e técnicos contratados pelo programa denunciaram atrasos salariais superiores a seis meses, falta de meios para trabalhar e ausência de resultados concretos. Muitos abandonaram os seus postos ou protestaram publicamente, enquanto consultores ligados ao círculo político próximo de Celso Correia foram acusados de receber milhões em contratos duvidosos, sem qualquer transparência.
O Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) e outras organizações da sociedade civil classificaram o programa como “um fracasso anunciado”, exigindo uma investigação judicial séria que abranja todos os responsáveis pela alegada má gestão e desvio de fundos. O próprio governo de Daniel Chapo optou pela extinção do SUSTENTA, considerando insustentável a sua continuidade nas actuais condições.

A incongruência entre o relatório oficial e os factos no terreno levanta sérias dúvidas sobre o uso de documentos institucionais para fins de autopromoção política. Ao apresentar um cenário de sucesso generalizado, o relatório de Celso Correia parece ignorar deliberadamente os problemas estruturais do programa, num esforço para preservar a imagem do ex-ministro, apontado como um dos rostos mais influentes do governo de Nyusi.
Com o processo de responsabilização ainda em curso e a promessa de novas investigações, o SUSTENTA pode vir a tornar-se um dos maiores escândalos de governação da última década em Moçambique — e um teste decisivo à seriedade do combate à corrupção no país.
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