
Vilankulo — Dois cantores locais, Privado e Damix, apoiantes declarados do partido Renamo, foram julgados e condenados esta semana a seis meses de prisão e ao pagamento de uma multa de 21 mil meticais cada. O veredicto surge após os músicos serem acusados de desrespeito aos símbolos do partido Frelimo, ao limparem o suor com uma camisa desta formação política durante a campanha eleitoral de outubro de 2024.
O caso gerou intensa polémica no município de Vilankulo, província de Inhambane, onde os artistas são figuras públicas bem conhecidas. O gesto foi interpretado por simpatizantes da Frelimo como uma afronta direta ao partido no poder a nível nacional, embora em Vilankulo o município seja liderado pela Renamo desde as últimas eleições autárquicas.
Em um ato inusitado de solidariedade, o presidente do Conselho Municipal de Vilankulo, Quinito Vilanculo, também da Renamo, deslocou-se à cadeia onde os músicos se encontram detidos e declarou que permanecerá junto a eles durante o tempo que estiverem encarcerados. “Ou todos nós ficamos em liberdade, ou todos nós ficamos na cela”, afirmou o edil, reforçando seu apoio aos artistas e criticando implicitamente o que considera uma perseguição política.
A condenação dos músicos reacendeu o debate sobre a liberdade de expressão, a instrumentalização da justiça e o respeito aos símbolos nacionais e partidários, num momento em que o país ainda lida com as tensões pós-eleitorais.
Organizações da sociedade civil e defensores dos direitos humanos já se pronunciaram, pedindo uma revisão do caso e apelando ao diálogo entre os partidos para evitar o agravamento das divisões políticas.
Enquanto isso, Vilankulo observa com atenção os desdobramentos de um episódio que vai além da justiça criminal e toca no âmago da convivência democrática em Moçambique.