Ter. Mai 13th, 2025

“É um insulto me pedirem desculpas a Ibrahim”, começou por dizer Langley

Em meio a uma escalada de tensões diplomáticas entre os Estados Unidos e Burkina Faso, o general quatro estrelas dos Fuzileiros Navais dos EUA, Michael Langley, se recusou publicamente a pedir desculpas ao líder burquinense Ibrahim Traoré, mesmo após ser desmentido por informações oficiais sobre o uso do ouro extraído no país africano.

“É um insulto me pedirem desculpas a Ibrahim. Sou um general quatro estrelas dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos protegendo os interesses do governo americano”, declarou Langley com firmeza, durante entrevista coletiva no Pentágono nesta terça-feira (13). “Ele está fazendo lavagem cerebral no povo africano e isso tem que parar.”

A fala polêmica ocorre dias depois de Langley ter afirmado que Traoré estaria desviando o ouro de Burkina Faso para garantir proteção pessoal e enriquecer aliados. No entanto, investigações independentes e documentos de organismos internacionais demonstraram que os lucros da mineração vêm sendo direcionados à manutenção de programas econômicos emergenciais no país — como subsídios à alimentação, combustíveis e investimentos no banco central.

Acusação sem provas abala credibilidade

Mesmo confrontado com as evidências, Langley recusou-se a se retratar. Sua postura foi criticada por líderes africanos e observadores internacionais, que acusam os EUA de perpetuar uma abordagem intervencionista e insensível à realidade regional. Para muitos, o episódio representa mais do que uma disputa entre dois líderes: trata-se da imagem dos Estados Unidos frente à nova geopolítica africana.

“A recusa de Langley em reconhecer o erro mina os esforços de diálogo e amplia a narrativa de ingerência externa”, avalia Fatou Bamba, analista do Instituto Africano de Relações Estratégicas. “Mesmo com dados públicos comprovando que o ouro está sendo usado para sustentar a economia de um país isolado por sanções, ele insiste em manter a acusação.”

Orgulho fufu” e guerra simbólica

Entre seus apoiadores, Langley é visto como símbolo de resistência ao que chamam de “autocracias emergentes” no continente africano. A expressão usada por ele — de que “reforça seu orgulho fufu” ao não recuar diante de Traoré — viralizou nas redes sociais e foi interpretada como um gesto de desafio, embora tenha sido criticada por soar caricata e culturalmente insensível.

Enquanto isso, Ibrahim Traoré, que chegou ao poder em 2022 após um golpe militar, ainda enfrenta questionamentos sobre sua legitimidade e o atraso na convocação de eleições. No entanto, ganhou apoio interno ao nacionalizar recursos e adotar medidas econômicas voltadas à população mais pobre.

O impasse entre os dois líderes parece longe de terminar. A postura inflexível de Langley alimenta tensões num momento delicado para os Estados Unidos na África Ocidental, região onde a influência de potências como Rússia e China cresce justamente por se apresentarem como alternativas menos exigentes e mais pragmáticas.

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