
Bonecas com feições quase humanas, peso semelhante ao de um recém-nascido e até mesmo simuladores de respiração e batimentos cardíacos. Estas são as chamadas “bebés Reborn”, brinquedos hiper-realistas que têm gerado crescente polémica nas redes sociais e na sociedade em geral.
Criadas originalmente como objetos de arte nos anos 1990, nos Estados Unidos, as bonecas Reborn conquistaram um público fiel em várias partes do mundo, inclusive em Portugal e no Brasil. Algumas pessoas as veem como peças colecionáveis ou instrumentos terapêuticos; outras enxergam nelas sinais de desequilíbrio emocional e questionam os limites dessa prática.
“Ela me ajudou a superar a perda da minha filha”, conta Marta Alves, de 42 anos, que encontrou consolo em uma boneca Reborn após um aborto espontâneo. Casos como o de Marta são usados por defensores da prática como exemplo do valor emocional que essas bonecas podem ter. Especialistas em saúde mental também reconhecem que, em alguns contextos, as Reborn podem oferecer conforto temporário, especialmente a idosos com demência ou a mães enlutadas.
Contudo, nem todos veem a tendência com bons olhos. “Há um risco de substituição da realidade por uma fantasia contínua, o que pode atrasar ou impedir processos saudáveis de luto ou amadurecimento emocional”, alerta a psicóloga clínica Ana Ribeiro.
A polémica se intensificou com a popularização de vídeos nas redes sociais, onde adultos simulam rotinas completas com as bonecas: trocam fraldas, alimentam, colocam para dormir e até passeiam com carrinhos de bebé. Em alguns casos, os internautas confundem as bonecas com crianças reais, gerando espanto ou críticas.
Além disso, questões éticas também estão em pauta. Algumas pessoas questionam se a comercialização personalizada de bebés com traços físicos escolhidos pelo comprador — cor da pele, olhos, cabelos e sexo — não reforça estereótipos e idealizações perigosas sobre a infância e a maternidade.
Apesar da controvérsia, o mercado dos bebés Reborn continua em expansão. Os preços variam entre 100 e mais de 1.000 euros equivalente à 7.000 a 71.000 meticais, dependendo do nível de realismo e dos materiais usados. Enquanto isso, a sociedade segue debatendo: são apenas bonecas ou reflexos de uma busca cada vez mais intensa por consolo emocional num mundo desconectado?