
LICE, TURQUIA — Uma operação policial para destruir drogas apreendidas acabou por gerar um episódio insólito e alarmante no sudeste da Turquia. No dia 18 de abril, autoridades da cidade de Lice, na província de Diyarbakır, queimaram ao ar livre mais de 20 toneladas de maconha, utilizando cerca de 200 litros de diesel no processo. A enorme nuvem de fumaça que se formou durante a incineração espalhou-se pela região, causando efeitos adversos em dezenas de moradores.
Segundo relatos locais, diversos habitantes da cidade — mesmo aqueles que se encontravam em casa com portas e janelas fechadas — apresentaram sintomas como náuseas, tonturas, confusão mental, sonolência e até alucinações. Muitos buscaram atendimento médico e suspeita-se que tenham sofrido intoxicação por exposição ao fumo carregado de compostos psicoativos, nomeadamente o THC (tetrahidrocanabinol), principal substância activa da cannabis.

A operação, que pretendia simbolizar uma vitória contra o narcotráfico, gerou críticas intensas. A polícia chegou a dispor os fardos da droga no solo formando a palavra “Lice”, como gesto simbólico antes da queima. Contudo, a falta de medidas de contenção e o descuido quanto ao impacto ambiental e humano provocaram revolta entre os residentes.
“Foi como se a cidade inteira tivesse sido drogada sem consentimento”, relatou um habitante ao jornal local. “Não conseguimos respirar. Havia crianças a vomitar e pessoas desorientadas.”
Especialistas em saúde pública alertam que a queima de grandes quantidades de cannabis pode libertar não apenas THC, mas também outras toxinas, como amônia e cianeto de hidrogénio, potencialmente perigosas à saúde respiratória e neurológica.
O episódio reacendeu o debate sobre os protocolos de destruição de drogas ilícitas e a necessidade de assegurar que tais operações não coloquem em risco a população. Casos semelhantes já foram registados noutros países, como na Argentina em 2021, quando uma nuvem de fumo proveniente da queima de cannabis causou mal-estar numa pequena cidade.
Até ao momento, as autoridades turcas não se pronunciaram oficialmente sobre o incidente nem anunciaram eventuais medidas de responsabilização ou revisão de procedimentos.