
O Avô da Nação Quer Mais Um Mandato — E Não Precisa Sair do Carro

Em mais um episódio que ilustra o estado peculiar da política africana contemporânea, o General reformado Moses Ali, de impressionantes 86 anos, foi oficialmente nomeado candidato às primárias do partido no poder em Uganda — sem sequer sair do carro. Sim, leu bem: o veterano político foi confirmado como candidato às eleições internas do Movimento de Resistência Nacional (NRM) através da janela do seu veículo, numa cena que muitos considerariam simbólica do desgaste institucional e da teatralização política no país.
A nomeação foi protagonizada pelo próprio presidente da Comissão Eleitoral do NRM, Dr. Tanga Odoi, que se deslocou até ao vidro do automóvel do General para selar a formalidade. Este momento insólito, longe de ser tratado com o espanto que merecia, foi apresentado como um feito de respeito e deferência a uma figura histórica. No entanto, o que verdadeiramente ilustra é o apego obstinado ao poder e o envelhecimento preocupante do espaço político ugandês.
Moses Ali, antigo comandante militar e figura central do regime de Idi Amin, é um dos rostos da velha guarda que resiste a abandonar o palco político, mesmo que fisicamente já não consiga caminhar até à mesa de inscrição. E ainda assim, é tido como um nome incontornável para representar East Moyo, no distrito de Adjumani, em 2026.
Também a Terceira Vice-Primeira-Ministra, Rukia Nakadama, foi nomeada candidata pelo distrito de Mayuge. Mas enquanto Nakadama seguiu o protocolo de forma convencional, o foco mediático, compreensivelmente, ficou sobre o General Ali — não pelo seu programa político ou renovação de ideias, mas pela forma como a política se acomoda, literalmente, a figuras que não saem do lugar.
A Uganda aproxima-se das eleições gerais de 2026 com uma paisagem política que continua dominada pelos mesmos rostos e vícios de décadas anteriores. A cena da nomeação do General Ali é mais do que uma curiosidade: é um retrato da imobilidade política disfarçada de tradição, um sintoma de uma democracia estagnada, onde o poder não se conquista nas ideias, mas se perpetua por hábito.
E você, o que pensa de um candidato que nem precisa sair do carro para ser confirmado? A política ugandesa precisa de renovação ou de reverência?

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