Dom. Jun 1st, 2025

Ibrahim Traoré impõe uso exclusivo de uniformes produzidos localmente

O governo de transição do Burkina Faso, liderado pelo capitão Ibrahim Traoré, anunciou uma medida decisiva no reforço da soberania económica e identidade nacional: a proibição total da importação de uniformes militares, judiciais e escolares. A partir de agora, tanto os tecidos como a confeção destes uniformes devem ser inteiramente produzidos em território burquinabê.

A decisão, tornada pública durante uma cerimónia oficial com a presença de jovens cadetes, insere-se numa política mais ampla de valorização da produção nacional. Para o presidente de transição, esta medida representa mais do que um simples ajuste logístico — trata-se de um posicionamento estratégico contra a dependência externa.

“O Burkina Faso deve produzir aquilo que consome. Os nossos militares, os nossos juízes e os nossos alunos devem vestir-se com aquilo que é feito pelas mãos do nosso povo”, declarou Traoré, num discurso firme e nacionalista que mereceu aplausos entusiásticos.

A medida deverá impulsionar significativamente o setor têxtil local, promovendo a criação de empregos e dinamizando pequenas e médias empresas que operam na produção de algodão e na indústria de vestuário. O Burkina Faso é um dos maiores produtores de algodão da África Ocidental, mas grande parte da sua matéria-prima era, até agora, exportada em bruto e reimportada já transformada em produto final.

Com esta nova orientação, o governo pretende inverter essa lógica. Para especialistas locais, a medida pode trazer benefícios económicos a médio prazo, desde que acompanhada de investimentos em formação, maquinaria e organização das cooperativas têxteis.

Contudo, críticos da medida alertam para os riscos de desorganização inicial e aumento de custos, especialmente em regiões onde a capacidade produtiva ainda é limitada. Ainda assim, o governo garante que haverá apoio técnico e incentivos às fábricas nacionais para assegurar o cumprimento da nova norma sem comprometer a qualidade ou o fornecimento.

A política de produção local imposta por Traoré surge numa altura em que o Burkina Faso reforça a sua retórica soberanista e procura romper com estruturas consideradas neocoloniais. A proibição de uniformes importados soma-se a outras iniciativas que visam fortalecer a autonomia nacional em sectores estratégicos como a defesa, a justiça e a educação.

Enquanto a comunidade internacional observa com cautela, no interior do país cresce um sentimento de orgulho e renovação. Os desfiles de jovens em uniforme nacional — já feitos com tecidos produzidos localmente — simbolizam uma nova era, marcada pela tentativa de construir um Burkina Faso mais autossuficiente e resiliente.

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