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Augusto Pelembe diz que FRELIMO não sabe governar sem fantasmas do passado

Por mais que tentemos escapar à rotina política de Moçambique, há sempre um momento em que a realidade nos puxa de volta com força, lembrando-nos que o país é, na prática, uma grande roleta — mas com as mesmas bolas de sempre. Esta semana, o carrossel girou outra vez e lá voltamos a ver os rostos de sempre em novas cadeiras.

Alberto Chipande e Mariano Matsinhe foram nomeados conselheiros do Presidente da República. Não se trata de etarismo, nem de desrespeito aos mais velhos — muito pelo contrário — mas convenhamos: quais são, efetivamente, os conselhos que estes dois senhores, figuras históricas já em idade avançada, podem oferecer a um país com uma população maioritariamente jovem, digital, desempregada e impaciente?

Há aqui uma inversão grotesca das prioridades. Em vez de escutar o futuro, o Presidente prefere dialogar com o passado. Os desafios de Moçambique hoje são outros: juventude sem oportunidades, economia estagnada, corrupção institucionalizada, criminalidade crescente, e um sistema de saúde e educação em ruínas. E é nesse cenário que se resgata figuras cuja última ligação com a realidade nacional talvez tenha sido uma conferência nos tempos da rádio de válvulas.

Como se não bastasse, surge a nomeação de José Pacheco para dirigir o SISE — o Serviço de Informações e Segurança do Estado. Outro nome reciclado, com um histórico político longo e gasto. A pergunta impõe-se: Moçambique não tem mais quadros? Não há jovens preparados, com visão estratégica, formação adequada, compromisso com a nação e com os pés no presente? Ou será que o cargo é apenas um prémio de consolação, um “toma lá” por fidelidade ao partido e não ao povo?

O que se vê, ano após ano, é a repetição de um padrão: as oportunidades, os cargos, as nomeações orbitam sempre o mesmo pequeno universo. É como se a FRELIMO fosse uma constelação eterna, onde as estrelas não morrem — apenas mudam de posição.

A juventude, essa maioria esquecida, continua a bater às portas do desenvolvimento — mas encontra as fechaduras sempre trancadas com as mesmas chaves de sempre, entregues aos mesmos rostos. A pergunta que não quer calar é: até quando? Até quando o país será propriedade de meia dúzia de figuras que circulam como peças de dominó entre ministérios, conselhos e gabinetes?

A renovação não é um capricho, é uma urgência. Governar com base na nostalgia é escolher a estagnação. O futuro exige coragem, ideias frescas, rostos novos e, acima de tudo, vontade de romper com esse ciclo vicioso onde o mérito pouco conta e a lealdade partidária vale tudo.

Moçambique não pode continuar a ser um museu político. É hora de abrir as janelas do poder para que entre o ar da mudança. Caso contrário, estaremos condenados a viver no eterno ontem, enquanto o mundo — e a esperança — seguem em frente.

 Augusto Pelembe diz que FRELIMO não sabe governar sem fantasmas do passado

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