
Luanda, Angola – Julho de 2025
A recente subida do preço do combustível em Angola desencadeou uma vaga de protestos em diversas províncias do país, especialmente na capital, Luanda. A tensão social, alimentada pelo aumento do custo de vida, resultou em confrontos violentos, centenas de detenções e, até ao momento, pelo menos quatro mortes confirmadas, incluindo a de um agente da polícia.
As manifestações iniciaram-se a 12 de julho, com centenas de cidadãos a reunirem-se na Praça de São Paulo, em Luanda, num protesto pacífico contra a subida do diesel e os elevados níveis de pobreza. A marcha, que tinha como destino o Largo da Maianga, foi rapidamente interrompida pela polícia, que recorreu a gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes. Segundo organizações de defesa dos direitos humanos, pelo menos nove pessoas ficaram feridas, três das quais com gravidade, e 17 foram detidas arbitrariamente.
A repressão policial foi denunciada por organizações como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, que exigiram uma investigação independente às forças de segurança e o respeito pelos direitos de manifestação pacífica.
Novos protestos foram convocados para os dias 19 e 26 de julho, abrangendo outras cidades além de Luanda. No entanto, as autoridades responderam com medidas restritivas, incluindo o bloqueio do acesso à internet por cerca de oito horas, uma ação que foi duramente criticada por organizações cívicas e ativistas, que a consideram um atentado à liberdade de expressão.

A situação agravou-se nos dias 28 e 29 de julho, após o anúncio oficial do aumento do diesel de 300 para 400 kwanzas por litro — uma subida de mais de 30%. Taxistas de várias cooperativas decretaram uma greve de três dias, com aumentos súbitos nas tarifas de transporte. O ambiente rapidamente degenerou em violência, com relatos de saques, vandalismo e bloqueios em bairros populares como Kalemba 2, Cazenga, Rocha Pinto e Prenda.
As forças de segurança voltaram a intervir com dureza. De acordo com fontes oficiais, mais de 500 manifestantes foram detidos nesses dois dias. Relatos da imprensa internacional e de testemunhas locais apontam ainda para quatro mortos, incluindo um agente da Polícia Nacional.
A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) e outros líderes religiosos têm vindo a apelar ao diálogo social, alertando para “convulsões iminentes” devido à indigência das famílias angolanas.
Apesar da repressão, os protestos revelam um crescente descontentamento popular face às políticas económicas do governo e à degradação das condições de vida. A comunidade internacional acompanha com preocupação a escalada da violência e o uso excessivo da força contra civis.