
Diante de um dos momentos mais cruciais destes 1.134 dias de invasão da Ucrânia, quando negociações mediadas pelos EUA parecem obter avanços pontuais mas seguem longe de um desfecho, a Rússia anunciou a maior convocação de recrutas desde 2011, como parte de seu esforço para ampliar o contingente do país para até 1,5 milhão de militares
Segundo o decreto do Kremlin, emitido na segunda-feira, a meta é alistar 160 mil homens até meados de julho, como parte da rodada semestral de recrutamento para o serviço militar. O número é maior do que o registrado nos “alistamentos de primavera” de 2024, quando foram chamados 150 mil recrutas, e bem acima de 2022, primeiro ano da guerra, quando houve 134,5 mil alistados.
Nas redes sociais e em sites de oposição ao governo é possível encontrar “guias” para evitar o alistamento obrigatório, que vão desde um pedido prévio para prestar serviços comunitários — cada vez menos aceito — até cometer pequenos crimes, o que não é recomendado em hipótese alguma.
— As autoridades estão criando novas formas de repor o Exército — alertou o advogado de direitos humanos Timóteo Vaskin, em declarações a veículos independentes russos.
Um grande temor dos homens russos, que deixaram o país em números consideráveis desde a invasão da Ucrânia, é de serem enviados para as linhas de frente, embora as autoridades militares neguem isso de forma veemente — nos últimos anos, Kiev relatou ter capturado recrutas russos, e o presidente Vladimir Putin chegou a reconhecer que alguns deles foram parar em unidades de combate “por engano”.
Para aumentar o clima de incerteza, o vice-chefe do Departamento Principal de Organização e Mobilização do Estado-Maior Russo, vice-almirante Vladimir Tsimlyansky, disse à agência Tass que um terço deles “será enviado para treinamento de unidades e formações militares, onde, em um prazo de até cinco meses, aprenderão a operar equipamentos militares modernos e obterão uma especialidade militar.
— Após a conclusão do treinamento, eles serão enviados para as tropas em conformidade com as habilidades que adquiriram — disse o militar, sem detalhar se essas tropas atuariam na linha de frente na Ucrânia.
A meta de alistamento é a maior desde 2011, quando 200 mil homens foram chamados, e se encaixa nos planos anunciados por Putin no ano passado para elevar a até 1,5 milhão de homens o número de militares na ativa nas Forças Armadas — há três anos, quando seus tanques entraram na Ucrânia, a Rússia tinha um milhão de homens em suas linhas.
Nesta quarta-feira, o negociador russo Kirill Dmitriev chegou aos EUA para conversas com integrantes do governo de Donald Trump Trump, que incluem, além da guerra, passos para a normalização dos laços entre as duas maiores potências nucleares do planeta. Na semana passada, o novo embaixador russo em Washington, Alexander Darchiev, chegou à capital americana, e a expectativa é de que dezenas de diplomatas voltem aos seus postos.
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Mas se os laços parecem sair de um gelo prolongado a passos rápidos, o mesmo não se pode dizer sobre um acordo para encerrar o conflito. Apesar de algumas concessões, como a promessa de não atacar infraestruturas de energia, o Kremlin tem feito exigências amplas, incluindo o fim das sanções e até a saída de Zelensky, para aceitar passos mais ousados.
No domingo, em uma reveladora entrevista à rede NBC, Trump disse que está “muito irritado” e “furioso” com Putin,e ameaçou impor novas tarifas e sanções contra ele.
— Se não for feito um acordo [de cessar-fogo entre Moscou e Kiev], e se eu achar que a culpa foi da Rússia, vou impor sanções secundárias à Rússia. Isso significa que, se você comprar petróleo da Rússia, não poderá fazer negócios nos EUA — disse Trump. — Haverá uma tarifa de 25% sobre o petróleo e outros produtos vendidos nos Estados Unidos, tarifas secundárias. O Globo