
O Instituto Nacional do Turismo (INATUR) anunciou recentemente a adjudicação do concurso para o desenvolvimento de um empreendimento turístico na Ilha Santa Carolina, na província de Inhambane. O projeto, avaliado em 102 milhões de dólares norte-americanos, foi atribuído à empresa Singita Internacional Limited, no âmbito de uma parceria público-privada (PPP) destinada a promover o turismo de luxo em Moçambique.
Embora o investimento seja apresentado como um marco para o relançamento do turismo nacional, a notícia surge num contexto de profundas desigualdades sociais e económicas. Num país onde milhões de cidadãos continuam sem acesso a água potável, energia eléctrica, saneamento básico e emprego digno, o anúncio de um projeto de luxo com centenas de milhões de dólares levanta questões sobre as prioridades do Governo.
Enquanto a Ilha Santa Carolina se prepara para receber investimentos milionários e possivelmente turistas estrangeiros de alto poder económico, em muitas comunidades moçambicanas as escolas continuam sem carteiras, os hospitais sem medicamentos e as estradas em estado de degradação avançada. Em zonas rurais, famílias percorrem quilómetros para conseguir água, e em várias cidades, o custo de vida torna-se insuportável para quem vive do salário mínimo.
Economistas e observadores questionam se este tipo de investimento terá impacto real na vida das populações locais, ou se, como em casos anteriores, acabará por beneficiar apenas uma elite restrita, com empregos temporários e poucos benefícios diretos para os residentes de Inhambane.
A Ilha Santa Carolina, também conhecida como “Ilha Paraíso”, poderá vir a ser um símbolo do contraste gritante entre dois Moçambiques: o do luxo e dos milhões de dólares, e o do povo que luta diariamente para sobreviver com dignidade.
“Investimentos desta natureza só fazem sentido se forem acompanhados de políticas que garantam que o turismo se traduza em desenvolvimento humano, e não apenas em lucro privado”, comentou um internauta
Num país onde a pobreza ainda afecta grande parte da população, a verdadeira riqueza deveria começar por garantir condições de vida básicas para todos — e não apenas resorts de luxo para poucos.
